segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Há tempo!...

Ah, Tempo!
Um ano se passou e eu não contei às noites, as luas
Não contei palavras ditas
Não contei as desditas vividas
Um ano passou e não contei a ninguém
Os dias, as horas, os sorrisos
Nem das estações lembrei.
Vi apenas à chegada de novembro,
O céu escuro, chuva anunciada.

Ah, tempo amigo!
Porque não se sentou comigo?
Porque insistiu em andar, quando queria eu sentar?
Porque passou, quando eu queria esperar outro tempo passar?
Porque não me deixou por dois ou seis segundos?
Prometi continuar com as rugas, idéias e fazeres
Prometi não buscar outros prazeres que me levem a morte
Prometi não pedir sorte, saúde ou prorrogação.

Tempo amigo
Deixa eu voltar ao colo
Antes que chegue o solo
Antes que seja outro o tom, o tempo
Antes que essa música chegue ao fim
Deixa!...
Há tempo, amigo...

sábado, 17 de novembro de 2007

Outros tempos

Nem sempre fomos assim
Sós, os dois.
Ela veste cetim, lê Neruda
Eu camisa e bermuda, canto e danço.
Pena de mim. Chora por me amar.
Eu, silencio sincero
Embora calada boca, olhos meus me traem
Trazem um bem, tão bem quero

....

E essa modorra que não passa.
Esse cansaço de graça que não me deixa rir.
Essa mão que pede o que possuía outrora.
O que me alegra e entristece?
O Saber. Não ser tempo de ir.

"Esses moços, pobres moços."
E essa música, que não vai embora
["Ah! Se soubessem o que eu sei”]

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Como pôde?

Vai viajar? Lembrou-se de deixar-me alimentos? Cuidou de livrar-me dos tormentos que tua ausência me traz? Beijou-me o suficiente para sentir falta de ar? Fez tudo o que lhe cabia? Tudo que podia? E o adeus? Acenará com o olhar de quem volta? O que caberia em tua bagagem? Que hora é a viagem? Avião ou trem? Quem sabe ainda encontro passagem? Ah, se me deixasse Ah, se pudesse eu iria. Deveria mesmo é proibir-te a ida... Onde já se viu? Partir assim, tão feliz, enquanto fico. Não ria. Não ria. Como pode a alegria te visitar quando não estou por perto?

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Roupa Nova

Sigo como que para o alvo
Não conheço linha reta
Experimento novos caminhos novos
Nas novas sandálias
Novas histórias além do pó,
... além do tempo
... além do templo, do tento

Mantenho-me salvo, na túnica
Despreparado para a guerra
Eu, essa terra insossa, sal da terra
Necessito mesmo de roupa nova
Sapato velho
Preciso mesmo de música.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Só por hoje

Só por hoje
Beijarei tua face doce com amor
Sem saber do sabor
Viverei a vida com vida
Terei de volta a ida
Onde não havia lamento na fala
E via a flor na flor.
Por hoje,
Esquecerei a mágoa esquecida
Saberei do fruto, o cremor

Só por hoje
Não farei o que quero
Não serei pequeno, menino
Não soprarei a chama subindo ao mezanino
Nem terei o sincero saber se me ama.
Por hoje,
Me terei como amigo
Calado falante
Pessoalmente espero
O mesmo
A mesma alegria de antes.

domingo, 28 de outubro de 2007

Mudança de tempo

Ontem, o escuro quarto me permitia ver o céu
Sabia da presença da lua, mesmo sem vê-la
Via a tempestade que as nuvens anunciavam
Entrelinhas parecendo me apontar renovação

Caminho, em um escrito, deixado pela enxurrada
Sulcos da terra árida.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Se homem feito fosse

Eu, menino,
Busco uma princesa para meus pensamentos
Como se fosse eu um sapo, necessitasse de um beijo para me transformar
Como se não precisasse ser salvo,
Como se não soubesse ser alvo,
Como se sua bela face suficiente fosse para eu amar

Eu, menino,
Recebi a chave
Mas da porta estou distante
Um poço, um fosso, uma ponte, uma torre para alcançá-la
E eu, nem cavalo tenho.
Apenas a espada
Que promove a divisão
Que não me traz paz, mas a guerra
Que me equilibraria sentimento e razão
Caso, eu menino, homem feito fosse
Caso, Eu menino Homem, homem feito, feito fosse.

Mas ai, seria outra a estória
Que eu, menino, não sei contar.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Nascer da água

Ontem a chuva visitou-me
Por dentro
Matou-me a sede
Por fora
Tirou-me o calor

Trouxe-me pensamentos novos
Desses que temos quando renascemos da água e do espírito.
Eu, sem resistir,
Deixei invadissem meus olhos, suas luzes
Seus sons, meus ouvidos
E, sem medo, me pus a chorar um choro novo
Desses que temos quando renascemos da água e do espírito

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Esperança do vôo

A poesia insiste, diariamente, em caminhar a meu lado
Chega toda menina, convida e espera, sorridente, um consentimento meu
E eu, menino, não aceito
Faço rodeios, ensaio uma prosa e a despeço

Vendo-a partir, me desfaço
Retomo meu jeito árido, penso na lua e sento-me
A beira da estrada, começo a sonhar

Nesse sonho
A poesia me aparece, menina sorridente, me convida a passear ao seu lado
E eu, menino, a abraço.
Consinto, me dissolvo e vou...
Vôo de mão dada,
Do alto, vejo partir a estrada

Retomo meu jeito, sem verso nem prosa
E espero ...
E espero...
... sentado

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Ab Ovo

Embora noite,
Vejo melhor o dia que vem.
Há um sentido novo
Ensinando aos ouvidos, de ouvir, ouvirem
Amestrando as mãos, inquietas por um toque
Doutrinando os sentimentos, altibaixos, que ficaram

Os olhos, de ver, continuam aboticados. Fixos em tua imagem
O fato? não percebo os odores chegados de setembro
Apenas cheiro o perfume que criei para a imagem que tenho de ti
E das dores, a maior é não sentir o gosto teu

Embora noite
Há um sentido novo, Ab ovo, tomando conta de mim

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Anteparto

agora?
agora preciso ir.

malas prontas, parto amanhã
eu estéril, incapaz de gestar
necessito abjungir de minha metade
e por isso, parto
satisfeito, nutrido, ambundante de quase tudo

no inverno, a estação
aguardo a chegada de setembro.
me levem a esperança, suas flores
para não partir com dores
para que chegue novembro farto.

neste cacimbo
satisfeito, nutrido, abundante de quase tudo
espero nimboso, um canto teu

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Olhando bem

Olhando bem, de perto,
vê-se a marca de nascença
a curiosidade, a criança
e todo um mundo que me habita
[as cicatrizes da infância,
brincadeiras de rua,
o beijo recebido antes do sono inocente]

Olhando, bem de perto,
notam-se os conflitos, as angústias
os valores, as conquistas
a sexualidade, a juventude
e todo um mundo que se agita
[paquera na praça,
o beijo dado com gosto
a euforia, o andar bem-posto]

Olhando bem de perto,
é possível ver as rugas
os sulcos [das lágrimas caídas],
e também outras marcas [deixadas por outras vidas]
a tez vincada, os sorrisos muitos
e todo um mundo de conquistas

Olhando, bem...
bem de perto,
percebem-se em mim, os poros, as manias
tristezas e alegrias
e toda uma vida acumulada
[o andar arrastado
o tremor das mãos]
o olhar parado
olhando a caminhada...
... bem de perto

domingo, 19 de agosto de 2007

Mãos

das mãos que tenho ,
unhas grandes apenas à direita. [melhor som no violão]
à esquerda, os acordes.
vez por outra, se tocam
vez por outra, tocam odes

por hora, trago-as no cenho
meu querer? [que toquem, monocórdio coração]
que nasça música
que afastem daqui essa sica
enquanto a noite não vem

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Chegando

Dá-me tuas mãos
Solta tua bagagem e vem.
[beijo-te menino]
Quero que durma um sono.
Cubra-te com lençol fino.
Quase absorvefaciente
Teu corpo cansado captura um olhar meu
Em profunda modorra, nada espera. Adormece.
[cortina ao vento, na aximez]
E eu?!!
Permito outra lágrima feliz
[Ventura tê-la ao meu lado]
E como se o tempo não tivesse passado
Olho-te novamente, pela primeira vez.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Dona-menina

Vejo-te agora, Dona-menina
Dos meus olhos
Flor pequena, madura
Uma tela sem moldura
A tinta fresca, do traço
Da vida
Faz-nos belos
Eterniza nossas cores.

Tenho-te agora, Dona-menina
Nos meus olhos
Grande flor, poesia
Numa canção sem melodia
A nota harmônica, do som
Da existência
Traz-nos luz
... e nos une.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Ao fechar a porta

estavas na varanda, de costas, como que pensativa
olhavas o céus contemplando a lua.
tocando em teus ombros, te chamo.
como quem vai, toco em tua face as costas de minhas mãos
- preciso pegar a estrada de volta.
num abraço terno, falo aos teus ouvidos
agradeço-os por me ouvir femininamente
[lembro o poema]
- vou pro deserto por uns tempos. pensar nas coisas que estão acontecendo [me refazer]
- não sou anjo, nem nada. Não te sinta culpada por não me salvar.
te solto do abraço [apertava muito]
digo frases que não devia ter dito, como quem vai...
- então, agora... [outro abraço, agora mais breve]
... perdoe minha fraqueza. meus sentimentos também

caminho até a porta olhando-te no olho
não digo palavra
[abro a porta lentamente, para ver se ainda me olha]
deixo que perceba minha lágrima
e meu olhar diz: - tente teu caminho de volta também.
seja feliz!
[fecho a porta, outra lagrima cai]
... sigo.

Dia-a-dia

Ontem chorava...
Chorava como alguém que necessita de colo
como se fosse tempo de tristeza
como se faltasse na vida a beleza, a esperança
como se eu não fosse suficiente
como se não fosse criança, querendo provar o que não pode
como quem ouve uma ode, divina.
Chorava pela estrela vespertina, solitária no céu

Hoje chorei...
Chorei como quem parte só
como se não amasse ninguém
como quem espera um tempo de delicadeza
como se faltasse na vida a esperança, a beleza
como quem não sabe de seu tamanho
como se houvesse provado, sem sentir o sabor
como se me faltasse amor
Chorei por uma lua matutina, solitária, serena em lunação

Amanhã...
Do amanha não sei
A vida me dará os motivos
Mesmo tendo quem me ame ao meu lado
Mesmo tendo muito chorado.
Sairei para a colheita dos espinhos que plantei
Até que meus pés possam pisar o chão
Até que alguém me dê a mão
Até que seja tempo de ser feliz

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Me despedi

disse adeus.
nem sorriso
nem fala
nem choro
e antes que minha fortaleza desabasse
parti.

Chega menina

chega pra cá menina
deixa eu ver seu rosto
deixa eu saber dos sulcos deixados pelas lágrimas
deixa eu saber se a dor foi pequena

chega pra cá menina
deixa eu ver seus olhos
deixa eu saber se eles ainda refletem seu brilho
deixa eu saber se estão vermelhos

chega pra cá menina
chega...
chega...
chega. não posso mais olhar.

terça-feira, 10 de julho de 2007

(in)Vigilância

Hoje me peguei comendo batatas como hóstias
Vigiado pela razão, repeli o prazer.
Deve ser pecado comer assim, o corpo de cristo.
Vigiado pelo prazer, repeli o pecado.
Deve ser prazeroso comer assim, algo tão divino

Deus não ouça esse pensamento meu
Me conhecendo bem,
Sabe de mim melhor do que eu.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Foi assim

Foi assim...
Uma luz brilhou no céu de noite
Com a cor dos olhos de mamãe
Olhos que me vêem bom
Mas, bom é o Pai
Que me deu olhos marrons
E uma estrela cadente
Me fez gente boa

Foi assim...
Um sorriso brotou do fundo da alegria que senti
Deslizando por um caminho longo,
Como se fosse dar ao sol, tendo-o em frente,
Como alguém que gosta da gente ainda tão cedo

Depois, as lágrimas surgiram
Deslizando por um caminho que ensina amar,
Como se eu fosse um grão de areia que não pudesse percebê-las
Como se fosse o mar, a estrada
Como se o que sinto me transformasse o pensamento

A quem for

Seja quem quer que for que for buscar
Seja o que é que for que for levar
Eu já conheço.
Sei do sorriso que quero dar e do olhar que irei receber.
Ambos são bons demais para serem ignorados

terça-feira, 26 de junho de 2007

Poesia, ainda não vos mereço

Oh pai...
Por que meus olhos se enchem de água ao ver a lua?
Por que a beleza de uma flor me faz chorar?
Por que há sempre uma canção em minha boca?
E por que não consigo cantar?
De onde essa lembrança boa sobre minha infância?
E por que no espelho vejo minha´alma nua?

Pai, deixa eu ser?!!!
Pouco tenho, nada valho
A gota de orvalho na flor, pela manhã é maior que eu
Nela cabe todo universo que pode ser visto pelo poeta
Eu, não sou anjo, nem nada
Nada percebo
A razão não me permite provar o sabor do riacho descendo a montanha
Água de beber, quero é para escutar.
Sol na linha do horizonte, quero é sentir
Vida me apraz
Mas não há prazo
Nem pressa
Nem preço
Há preso.
Então pai, deixa!...
... deixa eu ser?!!!

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Dia a dia

De dia, me sinto menino
Desenho um sol, contente
No canto da folha azul
Para ter sossego

A noite, menino crescido.
Pinto uma lua, cheia
No oco a minha frente
Para namorar com pouca luz

Madrugada, sou outro.
No escuro quarto
Pinto cama e me deito,
Adulto
Adormeço esperando o dia.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Talvez um talvez

Permaneço calado
Se melhor pra mim, não sei.
E Talvez por medo de ver o que penso
Talvez pelo tempo parado
Talvez pela saudade
Talvez pelo silêncio
Talvez por ficar na vontade
Talvez por ficar no olhar
Talvez por estar aqui,
Fico mudo.
Percebo apenas, que diante de tudo, mudei.
Se melhor pra mim, não sei.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Busco apenas ...

Não temo dizer o que penso ou sinto.
Mas como fazê-lo sem que a tristeza me invada?

Enquanto olho tua imagem, falo a tua doce alma.
Mas não me movimento.
E por um momento, o sorriso estático que vejo, te traz para perto.
E tu, menina, me acolhe em teu seio enquanto choro.
Tua alma me ama como se eu fosse bom.
Passo as mãos em teus cabelos, te peço um beijo e me dás.
Enxugas minhas lágrimas e me sorri para eu ficar feliz.

Eu?...
Dissolvo-me em teus braços.
Deixo-me absorver em teu corpo.
Nessa hora sou “nós”.
E então não falo.
Busco apenas ouvir tua voz

Auto-retrato

eu, menino travesso
choro e não falo
falo e não penso
penso, logo não faço.
tomo beijo sem sair correndo
toco o silêncio
chego sem pedir licença
saio sem pedir perdão

terça-feira, 12 de junho de 2007

Volta

Volto amanhã
Quando retornar, me escute de maneira calma
Sabendo que carrego na alma espinhos.
Eu mesmos os plantei e colhi
E agora, andam comigo

Sim... Volto amanhã
Me ouça com a paciência de quem ama
Esqueça a janela aberta, a chama acesa
Pode ser que eu volte sem esperança
E quando eu começar a falar
Me ouça de maneira calma
Ouça minha alma, femininamente.

sábado, 9 de junho de 2007

Dorme menina...

Ao te ver assim
Dormindo
Te amo!
... te busco pra mim, adormecida
Bela
Te pego no colo para te acordar
Sorrindo
E no meu colo descansas
Porque gosto de te ver assim

Te chamo!
... te busco para ninar
Beijo tua face
Levo teu perfume
E vou...
Pois gosto de viver assim

quinta-feira, 31 de maio de 2007

Assim seja...

Oh Pai,
não deixe que minha razão cale os sentimentos que me destes.
Da-me leveza nas mãos para tocar a alma de quem amo.
Tira-me da dor que sinto, a dor que causo.
Que eu possa, no silêncio da noite, falar, ouvir e ver, ainda que por instantes, o sorriso da flor que carrego.

Pai...
Que eu me contente com o muito que posso ter.
E não diga coisas sem sentido, ou que não possa cumprir.
Que eu seja quem sou, mas só doe o que tiver de bom. Apenas o que faça feliz.
Que a compreensão seja presente.
Que o tempo passe devagar.
E que eu aprenda e ensine.
Pai, deixe eu ser poeta.
Que todo dia me apaixone pela primeira vez.
E possa amar todo o dia.
E por hora, da-me forças para suportar-me.

(ouvindo alma nua - Vander Lee)

Olhar Melhora

tua alma me olha como se eu fosse bom
provoca em mim o desejo ser bom verdadeiramente
divido minha alma
parte ofereço para que plante em mim
uma semente que cresça e floreça esperança

outra parte, despejo sobre ti, banhando-te
para que me absorvas inteiro pela metade
para que me traga a vida
para que possas viver
me olhando
apesar de eu ser quem sou

segunda-feira, 28 de maio de 2007

O Inverno Chegara

os seis meses não se alteraram
dois dias se passaram
e é como se o tempo tivesse parado
não houve lunação?
não. não houve!...
não vê?
nada mais é contado,
nem algo que alegre ou que me faça melhor
nada mais é visto,
medo que me quebre, partindo, em dois ou seis.

no coração que habita meu peito oco,
três badaladas, antes que o galo cante
me convidando ao dia de cada dia

o inverno chegara
com ele, o frio e a noite clara,
que permitem ver um halo ao redor da lua, sua nova companhia.
na oca toca do espaço que habita,
o silêncio anuncia o momento do urso hibernar

terça-feira, 22 de maio de 2007

Ovelha Desgarrada

Sinto me como ovelha desgarrada
Dormindo a beira da estrada
A espera de um pastor que me queira.
Que me ame.
Que tire de mim o negro que me separa e me inclui
Sinto que durmo enquanto é dia.
Durmo com fome
Com medo de acordar, ja que o sono me alimenta.
Espero um pastor que tire de mim o medo.
Que me traga uma espada
Que promova a divisão
Que me faça acordar
Que tire de mim a esperança.
Que me tire de mim.
Eu, que não sou anjo, nem nada
Que gosto de chuva e caminho ao vento,
Sou apenas terra árida, necessitando de humidade
E só agora percebo.
Só, agora percebo.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Enquanto a estrada passa...

A caminho de casa
Tenho-te no pensamento
Ao meu lado.
Eu calado, te olho docemente
E ali permaneço enquanto a estrada passa.

Busco canções para cantar a lua
Peço a ela que cante para ti
Esperando alcance tua alma
Prepare minha chegada

A caminho de casa
Tenho-te ao meu lado
Olhando docemente a estrada
E eu, de pensamento calado,
Ali permaneço
Observando tudo que passa.
A lua canta
Encanta minha alma
Deixo de ser eu mesmo
Passo a ser nós.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Decepção

pé de mulher
pede
carinho
eu dou
mão de mulher
manda
viver
eu vou
alma de mulher
almeja
o bom
... não sou

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Um dia de fuga

Hoje resolvi sair da terra em que sou
Que habito
Fugi, num vôo distante
Daquele bem alto, onde se vê a terra pequena
Parada
Serena

Voei...
Não o vôo em V dos gansos
Um vôo solitário, gaivota, Capelo
Como era dia claro, havia um sol no canto direito, aquecendo meu corpo transformado.
Eu, terra, em movimento

Aproveitei a fuga para experimentar as nuvens
Busquei umidade para minha aridez
Como era dia claro, não havia lua no canto
Nem mesmo um canto havia
Nem mesmo lucidez

Percebi as asas que não tenho
Sentimento Razão
Fugi para a terra, que conheço
Que habito
De onde vejo o céu claro
Pequeno
Parado

segunda-feira, 30 de abril de 2007

Se...

Se eu conseguisse falar ao papel tudo o que tenho a dizer,
Se todo verde me levasse ao Brasil,
Se a canção não trouxesse ninguém,
Se a saudade não fosse voltar,
Se a razão me deixasse provar,
Se um erro me ensinasse,
E eu não me comparasse com Adélia,
um poema melhor eu teria
falando sobre canção e saudade
dizendo o que aprendi ao acertar
mostrando a única pessoa que sou
e que nesse momento posso ter tudo
Se eu conseguir falar ao papel...

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Meu elemento

Meu regente é terra, Terra meu elemento.
Talvez por isso, lentamente, me mova.
Por isso eu seja árido, não fecunde semente.

Deus, chova em mim.
Que não seja pouco, para que me encharque.
Que não seja muito, para que não me transforme em pântano.

Deus, um galho caia em mim, apodreça e me fertilize.
A Flor que trago ao meu lado sente sede e só pode contar com a chuva, que vez por outra vem. O orvalho que outrora caia na madrugada não a alimenta.
Preciso de rios descendo em minhas montanhas. Os que corriam passaram sem que eu deles cuidasse e agora minha flor está sedenta.

É dia de lunação. Hoje não corro para as montanhas, nem observo a lua distante.
Ficarei em um quarto vazio, sem janela, sem piso, sem teto.
Deus, me atenda, ainda que não compreenda o que quer de mim.
Menos ainda, o que quer para mim.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Uma fala ou toque

Por amar,
Permaneço calado, a procura de um riacho para por meus pés
Onde eu possa desaguar, confluir e buscar o mar.
Mas o fluxo estancado no leito, no oco do peito,
Só, consegue transbordar.
Então choro.

Espero a cada noite um toque seu
Eu, que não sou anjo, nem nada.
Espero por uma fala sua,
Que desobstrua meus sentimentos, que estanque as lágrimas.
E permita dizer de minha sinceridade, do quanto é bom esta caminhada.

Essência

se Pê de Planta: Palma
com o C ao meu lado: Calma
na ausência do corpo: Alma

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Ainda é cedo

Ainda é cedo,
E vou trocando as pernas
Cansado e atento,
No caminho de volta
Eu, a chuva e a cigarra
Cada um com seu som,
continuos, movimentando no ar.

Me alegro com a chuva
Que agrada a cigarra
Que canta para mim

Voaria caso quisesse,
No entanto vou trocando as pernas
Cansado e atento
Desfrutando cada momento desse diálogo
E de olhos úmidos, começo a cantar
Sentindo saudade de seus olhos
Que tão distantes tocam meu peito

Só, agora percebo que fala não é o que espero
Nem espero que tudo passe
Só, agora percebo que estamos calados
E Silêncio não é o que quero
Nem espero por tudo, parado.

Percebo que não sou anjo, nem nada
Apenas terra árida esperando tua umidade.
E enquanto pego o caminho de volta
Vejo tudo que não vi na ida.

Apanho vento com a boca,
Degusto e solto pelas narinas
Aquecido com meu prazer
Outro tanto, sinto com os olhos
Que devolvem, alegremente, lágrimas

E a calada noite fala-me em silêncio,
Como posso encontrar, sem estar
Afoito ou tranquilo,
A beleza de viver na calada da noite.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Desconstrução

Algumas paredes da casa em que vivo foram derrubadas.
Estava tudo certo. Quase tudo funcionando.
Mas elas caíram e já não há onde pisar.

Precisei mudar a posição dos móveis.
Outro quarto foi necessário.
E já não tenho mais as coisas nos locais onde estavam.
Eu..., virginiano "organizadinho", com quase tudo no lugar certo,
Não posso dependurar quadros na parede.
Muito menos endireitá-los.

Quero ficar e ver os azulejos serem quebrados e opinar sobre a tinta que será usada.
Sair da casa não adianta.
Enquanto não acabar, nada adianta.

Não mais reclamarei da poeira.
Simplesmente deixarei as lágrimas caírem para que os olhos fiquem limpos e possa ver a mudança.
Imagino que a vizinhança nada perceba, pois tudo se dá no interior.
Por fora, a mesma casa de trinta e tantos anos.
Flor no jardim, Lua no céu.
Cada uma em seu lugar, cada uma com sua beleza.
E eu!?
E eu as observo diariamente, pois não quero que os tijolos velhos das paredes velhas as alcancem.
Espero amanheça.
Espero que o Sol traga luz ao meu dia, para que perceba a parte da casa que esta de pé.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Distante de mim

Estou distante de mim.
Afastando-me, um pouco a cada dia,
De minha vida,
Caminho em outra direção.
Levo comigo o que sinto e penso. Apenas.

Alguém caminha a meu lado, mas não o vejo.
Tento fazer silêncio para ouvir o que diz
Mas sou rebelde.
Quero apenas alguém que me ouça.
Um alguém distante, que existe apenas no campo das idéias e dos sonhos.

Vejo que sou outdoor
Não preciso falar nada
Todos percebem meu estado de anjo que ainda não nasceu.
Todos sabem que sou terra árida
Parada a beira da estrada
Com os sentimentos excluindo minha fala.

E não importa o que diga
A lua percorre o céu
A flor busca a terra
E eu ...!?
Caminho em outra direção...

Talvez consiga fazer o caminho de volta
Mesmo tendo passado da linha limite.
Mesmo tendo atado tantos nós.
Mesmo que esteja tão distante de mim

quarta-feira, 28 de março de 2007

Pela primeira vez

Após o passeio na mata,
Me vi diferente
Ao te ver novamente pela primeira vez
De boca úmida, silenciosa,
Escutavas a água correndo ao teu lado.

A partir daí, nada de chuva
Nada de canto, nada de pranto ou dor
Iluminada, diante de mim.
E eu, que não sou anjo, nem nada,
Nem mesmo o vento sentia,
Nem mesmo meu nome sabia.

Permaneci calado, mãos inquietas e pulso acelerado
Pus meus pés no riacho
Desejando um toque teu.
Calado, espero que teu amor me dissolva, me derreta
Que me faça iluminado, diferente
ou que permita te veja novamente
Pela primeira vez.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Encontro

Manhã...
O caminho que sigo me mostra o mar
Também o que há na alma que me acompanha
E eu vejo,
Me mostro,
Me vejo.

Noite...
O caminho que sigo me ensina amar
E vejo a lua sair da água que sai do chão
Ensaio um rumo
Saio em rumo a um belo horizonte
Em busca na voz que não ouço agora.
Então, a lua me mostra Deus
E eu vejo,
Me escondo,
Me vejo.

Meu mundo passa a ser um grão de areia.

quinta-feira, 15 de março de 2007

Papel em Branco

Que Deus me livre de papel em branco.
Olha-me como se me desafiasse
Como se eu, de poucas palavras e idéias, soubesse o que ele quer de mim.
Ora veja! Por mim, ficará ai. Em branco, como veio ao mundo.
Não posso preenchê-lo toda vez que me solicita.
Posso no máximo, e é bom que fique claro, pincelar monossílabos concordando com o que ele afirma.
Precisa entender. Sou virginiano.
Escrever ou pintar a partir do branco deve ser tarefa para arianos. Esses sim sabem se expressar, dar a luz.
Lembro-me um programa de TV de minha infância, onde um pincel molhado era passado em uma tela branca e um desenho lindamente colorido surgia aos meus olhos.
Que prático!
É isso que me falta hoje. Um pincel molhado.
Em duas ou três pinceladas minha agonia iria embora.
Fixaria o olhar na imagem revelada, conhecida antes mesmo do primeiro toque.
Pegaria no colo e a abraçaria, como uma mãe ao filho concebido.
Mas meu amor de mãe ainda não nasceu.
E por isso peço a Deus: Só por hoje, me livre de papel branco.
Pois estou só. E em duas ou três pinceladas a imagem revelada com água, seria colocada no colo. Eu a abraçaria como um homem abraça a mulher que ama, conhecida mesmo antes de vê-la.
Nesse quadro, pediria outras folhas mais e pintaria uma vida ao lado dessa imagem.
Em cada uma, um lugar. Em cada uma, um sentimento.
E como conheço pouco o que sinto,

Peço; Deus, me livre de papel em branco.

quarta-feira, 7 de março de 2007

Na chegada do inverno

Assim, quando percebi que lua veio de longe
Voava partindo
Em outra direção
Retirando de mim,
Que não sou anjo nem nada,
Suas asas de paixão.
E já não vôo como antes.

Mas não choro por isso
Tenho ainda lembranças
E também a esperança de aprender
Dizer "la mer"

Tenho a certeza de que as aves voam
Na chegada do inverno
Deixando a terra ainda cedo
Para não sentirem frio,
Para não ficarem sem sol,
Para não ficarem sós.

Alguém me Escute

E o que desejo agora é alguem que me escute de maneira calma.
Alguém que seja luz suave e me ajude a suportar o terror da noite.
Alguém que em sua presença não precise falar.
Que não ria do meu choro,
Que não chore com meu riso.

Preciso que ouça minha dor
Mesmo que eu não fale,
Mesmo que me cale em meio a uma frase

Quero alguém assim...
Embora não mereça, preciso.
Alguém que me tire da beira da estrada
Caminhe comigo para eu me refazer
Que perceba meu ritmo de vida que não parou
Perceba meu amor que não nasceu

Quando eu começar a falar,
Preciso de alguém que me ouça femininamente
Com a paciência de quem ama
Antes que perca o tempo a lua, a flor
Antes que me perca sem sons, sem tamanho.
Solitário.

segunda-feira, 5 de março de 2007

A Caminho de Casa

Ando a caminho de casa
Não ouço a chuva que, outrora, molhava minha alma
A cigarra não me mostra seu canto
E ainda assim, alegria é o que há
No canto esquerdo de meu peito.
É nesse caminho que sigo,
Que cheiro a flor que carrego.
E embora o medo de pecar
Construo versos de paixão
Com o coração obssecado
Vigiado pela razão
Que não percebe a quem amo
Agora tento fazer disso um tema,
Um poema, um conjunto de palavras sem rimas:

"EMA, APENAS AVE.
APENAS NOME, QUANDO ISOLADO DE "PO"
PALAVRA PEQUENA QUE ME MOVE AGORA
QUE ME FAZ IMAGINAR ALGO QUE PODERIA SER DITO CASO EU FOSSE POETA
QUE ME FAZ DAR VOLTAS E VOLTAR..."

Com vontade de andar na chuva
Onde cada gota me toca o ombro
Como se me chamasse: Watt... Watt
E tendo muito o que dizer, fico calado
Surge então a saudade, o desejo e o silêncio
Que me impelem, que me impedem
(E talvez por isso, estejam aqui...)
E eu, mudo, diante de ti
Percebo meu mundo distante de ti

Ponto Médio

Se seu sorriso não me transmitisse alegria,
Calaria tudo o que sinto e penso.

E onde a voz da razão, que me permite falar o que sinto?
Onde o sentimento então, que deixa o que penso chegar ao peito?
De onde essa lembrança que me bate agora?
E essa música que não vai embora
com a saudade que me traz você?

Tudo isso é bom?
Tudo isso é bom!

É passado, tão perto...
Tudo me mostra que não tenho nada.
Apenas um escada para subir
Um abraço para dar, carregado de canções e momentos
Sorrisos e lágrimas que irão tocar no ponto médio da razão-sentimento
E dizer:
- Já é tempo de ser feliz!

Como não conheço a força que une as pessoas
E ignoro como fazer coisas boas,
Vôo encantado no tempo
Encontrando abraços, doados com carinho
Abrindo o caminho para as lembranças dos momentos alegres que esqueci.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Acordei Assim

Há muito não via a lua.
Quando o dia amanheceu, vi o céu claro, e esse era meu desejo:
Ve-la novamente. Ainda que não estivesse cheia.
Não ligo para o quarto minguante - meia face iluminada.
Ou mesmo que sua noite não tenha sido bem dormida.
Pois eu a conheço e completo a parte que não vejo.
Ela me completa a parte que vê.

Não quis esperar a noite.
Completo hoje a quarta Lunação.
E vejo sua regencia, sua polarização.

Acordei assim, querendo lua.
Não quis esperar a noite.
Solicitei-a daqui mesmo.
Deixei também que ela me visse.
Matasse minha saudade dos seus olhos me olhando.
Mudos, ficamos conversando. Ela e eu.
Minhas mãos inquietas não acenaram.
Simplesmente se estenderam tentando tocá-la.
Nem mesmo disse bom dia.
Apenas a contemplei
Enquanto minh´alma desejava uma mudança de fase
Quarto crescente - outra meia face iluminada

Hoje acordei assim,
Querendo uma lua
Para dizer do meu amor por ela.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Sem que o tempo passe

Procuro-te agora em sonhos.
Onde posso tocar-lhe a face
Beijar-te os labios
Sentir em teu colo o cheiro de teu solo
E me plantar nele, para que eu cresça
Na tua umidade floreça
Sem que o tempo passe.
Em sonho, ponho-te a meu lado
Cantando para que eu adormeça
Me ninando, menina
Com olhar de quem cuida
De quem me quer assim
Sonhando contigo
Para que te sintas bem
Para que adormeças e sonhes comigo
Tocando meus lábios
Beijando minha face
Sentindo meu colo
Sem esperar que o tempo passe.

domingo, 11 de fevereiro de 2007

olhando sua janela

- E o que acha que veria?
- Você sentada a mesa, escrevendo. Umas telas inacabadas. Uma cama por fazer, a toalha ainda molhada sobre ela, um copo de leite sobre a mesa.
- Como sabe que eu deixo toalha em cima da cama?
- Não sei.
- Veria também seu pé balancando descompromissado debaixo da mesa. A blusa branca molhada pelo cabelo. Vez por outra uma modida nos labios. Vez por outra uma mordida no lapis, como quem quer se lembrar de algo.
Ficaria imóvel na janela. Passaria horas ali espiando, esperando que algo revelasse sua face pouco iluminada. Você teria a sensação de que alguém te observa, mas não veria ninguém. Quando olhasse para traz, veria apenas um retrato seu, amarelado, mas que lembra sua infância. Você menina, pequena, "opniuda", já escolhendo o que seria quando crescesse.
E somente depois de observar por horas sua casa, perceberia que preciso voltar no outro dia, com esperança de que algo se revele novo, novamente.