quinta-feira, 15 de março de 2007

Papel em Branco

Que Deus me livre de papel em branco.
Olha-me como se me desafiasse
Como se eu, de poucas palavras e idéias, soubesse o que ele quer de mim.
Ora veja! Por mim, ficará ai. Em branco, como veio ao mundo.
Não posso preenchê-lo toda vez que me solicita.
Posso no máximo, e é bom que fique claro, pincelar monossílabos concordando com o que ele afirma.
Precisa entender. Sou virginiano.
Escrever ou pintar a partir do branco deve ser tarefa para arianos. Esses sim sabem se expressar, dar a luz.
Lembro-me um programa de TV de minha infância, onde um pincel molhado era passado em uma tela branca e um desenho lindamente colorido surgia aos meus olhos.
Que prático!
É isso que me falta hoje. Um pincel molhado.
Em duas ou três pinceladas minha agonia iria embora.
Fixaria o olhar na imagem revelada, conhecida antes mesmo do primeiro toque.
Pegaria no colo e a abraçaria, como uma mãe ao filho concebido.
Mas meu amor de mãe ainda não nasceu.
E por isso peço a Deus: Só por hoje, me livre de papel branco.
Pois estou só. E em duas ou três pinceladas a imagem revelada com água, seria colocada no colo. Eu a abraçaria como um homem abraça a mulher que ama, conhecida mesmo antes de vê-la.
Nesse quadro, pediria outras folhas mais e pintaria uma vida ao lado dessa imagem.
Em cada uma, um lugar. Em cada uma, um sentimento.
E como conheço pouco o que sinto,

Peço; Deus, me livre de papel em branco.

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